Almada Negreiros
o teu olhar que lê o verso
onde entendes tua vida dita
assim em sons e reverberações.
vê o teu espanto que é achar
que eu possa de algum modo
conhecer os meandros da tua alma
escura sem nunca ter-te visto.
pensa então na impossibilidade
que é haver no mundo alguém
que reconheça a tua muda dor
sob os lençóis gelados do teu sono.
se a tudo entendes como enigma
e o estupor que tens levanta
as pálpebras do teu espírito hibernal
é que o poema diz o que a língua
que habituas o teu ser febril te calas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário