sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ao ler a página de rosto

Após lido, o livro

é lançado no lixo.

“Zumbirão as moscas!”. Mas

lembra que estavam mortas.

Rememora os versos. Há vezes

que soam leves, e outras

como hipopótamos – embora

o símile não venha dele

se arca ao peso do fruto

podre. Ainda assim

se volta ao vate e vê

o verso à flor do Verbo,

o pensamento a soar

à oitava do canto,

a voz do vernáculo

a entoar as ideias,

a vera amplitude

encarnada no arranjo

das letras. Retoma

o poema. Desfolha-o

na mesa, manchado

de manteiga. Ao lê-lo,

reúne os elos esparsos

na mente, como o vento

recolhe as folhas no desejo

de as vestir em árvores.

Tão logo cessa

o alestamento

as folhas caem

sem par. Assim revolto

ao rosto o sentido

lhe vem de encontro.

“Que praz ao poeta?”

É hora do almoço.

À mesa o poema

retarda o feijão.

“Que dom doar ao planeta?

O esforço é vão. As letras,

se muito, riscarão no ar

seus ciclos como cometas

na página infinita.

Que olhar as lerá, se definha

nossa hermenêutica

de estrelas?”. Ronca-lhe

no ventre o vácuo.

À vista tenra

destina os poemas

ao saco de recicláveis.

“Se pede atitude!

Implora o planeta”.

O fim

  se o mundo acabar antes de mim escrevo o seu epitáfio lamento o seu passamento velo sua partida choro os seus mortos retiro o meu chapéu v...