Após lido, o livro
é lançado no lixo.
“Zumbirão as moscas!”. Mas
lembra que estavam mortas.
Rememora os versos. Há vezes
que soam leves, e outras
como hipopótamos – embora
o símile não venha dele
se arca ao peso do fruto
podre. Ainda assim
se volta ao vate e vê
o verso à flor do Verbo,
o pensamento a soar
à oitava do canto,
a voz do vernáculo
a entoar as ideias,
a vera amplitude
encarnada no arranjo
das letras. Retoma
o poema. Desfolha-o
na mesa, manchado
de manteiga. Ao lê-lo,
reúne os elos esparsos
na mente, como o vento
recolhe as folhas no desejo
de as vestir em árvores.
Tão logo cessa
o alestamento
as folhas caem
sem par. Assim revolto
ao rosto o sentido
lhe vem de encontro.
“Que praz ao poeta?”
É hora do almoço.
À mesa o poema
retarda o feijão.
“Que dom doar ao planeta?
O esforço é vão. As letras,
se muito, riscarão no ar
seus ciclos como cometas
na página infinita.
Que olhar as lerá, se definha
nossa hermenêutica
de estrelas?”. Ronca-lhe
no ventre o vácuo.
À vista tenra
destina os poemas
ao saco de recicláveis.
“Se pede atitude!
Implora o planeta”.
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