ele enrugava a testa
sobre o livro aberto
quando ela entrou
- dias antes, cerrara
o pensamento ao redor
dos livros empilhados –
mas ela entrou
pinçando o chão
como uma vespa
ele viu os pelos
envergarem
como campos de trigo
e um aroma
de lírios triturados
roçar-lhe a boca
e aí alçou os olhos
num gesto lento
como se as palavras
pesassem na retina;
como se vestissem
novas luzes
as pálpebras caíram
um instante;
ela sentou-se
a um palmo de sua
boca entreaberta;
ele manteve a mão
estirada na página
como se náufrago
na tábua
luziam as pupilas
como facas
e os olhos se esforçavam
em puxar o rosto;
ela ajeitou o cabelo
atrás da orelha
a voz exalava
um hálito fresco;
ele abria as narinas;
falando, ela sorria;
ele colhia as palavras
e as juntava
como feixes
sobre os livros que lia
ajeitava-as
como epígrafes;
no entanto,
ela as dera
com intenção nas entrelinhas:
verbos que no lábio
soam como a sibila.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O fim
se o mundo acabar antes de mim escrevo o seu epitáfio lamento o seu passamento velo sua partida choro os seus mortos retiro o meu chapéu v...
-
se não me engano, por volta de 30 mil anos-luz do centro da Via Láctea, que fica na extremidade de um aglomerado de galáxias parte de outr...
-
Afoguei o verso à boca. Ela me encarava à toa. Não direi! Não farei isso! Um poema é um desperdício. Ela esperou. Não disse nad...
Nenhum comentário:
Postar um comentário