sexta-feira, 22 de abril de 2011

Leitura de Helena

ele enrugava a testa

sobre o livro aberto

quando ela entrou



- dias antes, cerrara

o pensamento ao redor

dos livros empilhados –



mas ela entrou

pinçando o chão

como uma vespa



ele viu os pelos

envergarem

como campos de trigo



e um aroma

de lírios triturados

roçar-lhe a boca



e aí alçou os olhos

num gesto lento

como se as palavras



pesassem na retina;

como se vestissem

novas luzes



as pálpebras caíram

um instante;

ela sentou-se



a um palmo de sua

boca entreaberta;

ele manteve a mão



estirada na página

como se náufrago

na tábua



luziam as pupilas

como facas

e os olhos se esforçavam



em puxar o rosto;

ela ajeitou o cabelo

atrás da orelha



a voz exalava

um hálito fresco;

ele abria as narinas;



falando, ela sorria;

ele colhia as palavras

e as juntava



como feixes

sobre os livros que lia

ajeitava-as



como epígrafes;

no entanto,

ela as dera



com intenção nas entrelinhas:

verbos que no lábio

soam como a sibila.

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