“A voz de Adriana,
empurrando a tarde...”
(Ondjaki)
e
a voz de Adriana tomou a sala
da
gente mal educada que enquanto
ela
cantava cochichava sobre o seguro
do
carro e brincava com as telas
dos
celulares pois não se contentava
com
o miado metálico que ela, diva,
desde
o tempo que criara Enguiço,
ao
fim dos refrãos aprimorava
alheia
a quem lhe roubava a imagem.
e
a voz de Adriana (que não me conhece
nem
nunca leu-me de perto ou mesmo
seu
timbre de manga quando fala
umedeceu
meu nome ao telefone):
“É,
Sidnei, não sei quem és, de onde vens.
Não
sei que encontras na minha voz
que
tuas tardes de verso e vinho
se
assentem como acentos nessas sílabas
em
si frágeis, nebulosas e finitas.”
pois,
de ouvidos deitados sobre o balcão,
sem
lhe ver os olhos celestes ou as dobras
do
vestido verde e a luz recolorindo-a
a
cada música, apesar da mísera fagulha
de
Adriana que me chegava à espinha
pela
garganta elétrica dos microfones,
passava
então em minha cabeça
quase
que naturalmente
recebê-la
em meu apartamento
para
retribuir-lhe em poemas ou um brinde
oferecer
por cantar em vinis e cds
desde
os anos noventa quando então
Adriana
dourava os cabelos com a cor
que
eu pensava ser própria de estrelas
que
ela nunca quis ser porque é sereia.
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