Afoguei o verso à boca.
Ela me encarava à toa.
Não direi! Não farei isso!
Um poema é um desperdício.
Ela esperou. Não disse nada.
Só me olhava sua risada.
Eu tremia com minha língua.
Não é hora de poesia!
Mas então, não aguentei
e em dez versos eu rimei
os seus olhos, seus cabelos
e outros clichês de permeio,
o sexo e etcetera,
tudo que ali já era,
para enfim no arremate
mandá-la aquilo que a parte
e destilar toda minha ira,
só que o ritmo desandaria
e ainda que o verso minta
não se pode perder a poesia.