quinta-feira, 9 de abril de 2015

A musa partida


Afoguei o verso à boca.
Ela me encarava à toa.
Não direi! Não farei isso!
Um poema é um desperdício.

Ela esperou. Não disse nada.
Só me olhava sua risada.
Eu tremia com minha língua.
Não é hora de poesia!

Mas então, não aguentei
e em dez versos eu rimei
os seus olhos, seus cabelos
e outros clichês de permeio,

o sexo e etcetera,
tudo que ali já era,
para enfim no arremate
mandá-la aquilo que a parte

e destilar toda minha ira,
só que o ritmo desandaria
e ainda que o verso minta

não se pode perder a poesia.

domingo, 5 de abril de 2015

Durante a madrugada


Acordei às três para fazer
quatro estrofes de um poema.
Um sonho sugeriu-me
fazê-lo sobre Helena.

Não a de Troia, a da Vila Madalena,
a de olhos de bezerra,
de voz grega, de cheiro de almíscar,
de dentes perfilados

como estrelas em cortejo,
de ossos que estalavam,
de unhas que inscreviam
o amor em minhas costas


como os muros da cidade
arquivam pensamentos.
Mas o sono chaveou a memória
e capitulou o poema.

Sob as nuvens



os teus cabelos voam
no sábado de aleluia
no céu como uma cama
o meu amor descansa

não fosse assim azul
mas pejo de castanho
recordaria os olhos
que baixas quando amamos

andamos, mas tu voas
e vamos tão distantes
que meus pensamentos
no chão se derramam


mas vê o horizonte
curvo em que flutuas
e lembra de meus ombros
que aguardam o teu pouso.

O fim

  se o mundo acabar antes de mim escrevo o seu epitáfio lamento o seu passamento velo sua partida choro os seus mortos retiro o meu chapéu v...