era difícil a pergunta
anos depois de ter
o coração incensado
no teu sorriso de nuvem
e agora revê-lo alvo
como outrora aberto
a minhas mãos inda
incompletas do gesto
de moldá-los, era como
solfejar a melodia
soterrada pelas noites
ruidosas de memórias
no início do espetáculo.
mas tão pungido foi o azul
dos teus olhos nos meus
dedos trêmulos que o sangue
ardeu-me a mente entulhada
de desejos e o teu calor
de voz gravado em meu leito
de verdades centelhou em meu
rosto cativo ao teu intento.
só que não era o nosso tempo
o mesmo nos relógios, e os teus segundos
de partilha escorreram sob a chuva
rara do céu marchetado de julho.
sábado, 9 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Para uma nova história da filosofia
O Estagirita, busto romano, séc. I d.C.
Mas Lutero o chamou
de sicofanta, de bode fedido,
enquanto os aristotélicos
diziam o que ele havia dito
à revelia das evidências;
e se há por certo que o pai Tomás
se indispusera com os sábios árabes
menos pelas ideias que pelos votos,
ninguém pode, afinal, compará-lo ao bode,
pois não há códice que o assemelhe
aos beiços cavernudos de Sócrates.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Partidas
você partiu assim
após o réveillon
sem muita explicação;
um “ah!” ou “você sabe”,
“eu é que tenho problema”
e fôrmas desse tipo!
não desdenhou
porque não queria
e se eximiu de dizer
que tinha coisa melhor
mas tinha o script
e abriu-me o sexo
de samaritana
quiçá o receio de dizer
que tinha coisa melhor
espécie de taxa
de encerramento
e aí tudo bem
“fico sem dever nada
para ninguém”
um tchau e um beijo
e aquele travo
na garganta
quando te vejo
por este fio
que não desata
ainda te amo
ou marca o corpo
a posse árdua
do passado?
após o réveillon
sem muita explicação;
um “ah!” ou “você sabe”,
“eu é que tenho problema”
e fôrmas desse tipo!
não desdenhou
porque não queria
e se eximiu de dizer
que tinha coisa melhor
mas tinha o script
e abriu-me o sexo
de samaritana
quiçá o receio de dizer
que tinha coisa melhor
espécie de taxa
de encerramento
e aí tudo bem
“fico sem dever nada
para ninguém”
um tchau e um beijo
e aquele travo
na garganta
quando te vejo
por este fio
que não desata
ainda te amo
ou marca o corpo
a posse árdua
do passado?
Ocorrência
se sabe que havia
oito tiros nas costas
e o corpo no mato
jogado pelos capangas
após a discussão
sobre quem errara
quando o vigia do banco
sacou o 38
e expirou ali
junto à porta de vidro
não sem antes
desferir três tiros
e um deles na coxa
do que estava
junto ao caixa,
o motorista,
que estacionara
frente à agência
o Santana roubado
azul metálico,
rodas de liga leve
e os bancos altos
que a loirinha
a chamada
de gostosa
ingenuamente
cobiçara
quando os quatro
cruzavam
a Nove de Julho
paquerando
as encorpadas
após repassado
o plano do assalto
na loja de tintas
ainda aberta
àquela hora
apesar de viva alma
entrar no intuito
de embelezar a vida
entre quatro paredes
enquanto se cheirava
cocaína no banheiro
dos fundos e sorria-se
da vida nem assim
tão franca
mente
diluída nem também
trágica, mas da pequena
Carolina, quatro anos,
que, dizia-se,
o humor da mãe,
o que era o mote
dos sorrisos estampados
quando as armas
se fechavam
após serem revisadas.
oito tiros nas costas
e o corpo no mato
jogado pelos capangas
após a discussão
sobre quem errara
quando o vigia do banco
sacou o 38
e expirou ali
junto à porta de vidro
não sem antes
desferir três tiros
e um deles na coxa
do que estava
junto ao caixa,
o motorista,
que estacionara
frente à agência
o Santana roubado
azul metálico,
rodas de liga leve
e os bancos altos
que a loirinha
a chamada
de gostosa
ingenuamente
cobiçara
quando os quatro
cruzavam
a Nove de Julho
paquerando
as encorpadas
após repassado
o plano do assalto
na loja de tintas
ainda aberta
àquela hora
apesar de viva alma
entrar no intuito
de embelezar a vida
entre quatro paredes
enquanto se cheirava
cocaína no banheiro
dos fundos e sorria-se
da vida nem assim
tão franca
mente
diluída nem também
trágica, mas da pequena
Carolina, quatro anos,
que, dizia-se,
o humor da mãe,
o que era o mote
dos sorrisos estampados
quando as armas
se fechavam
após serem revisadas.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Ao ler a página de rosto
Após lido, o livro
é lançado no lixo.
“Zumbirão as moscas!”. Mas
lembra que estavam mortas.
Rememora os versos. Há vezes
que soam leves, e outras
como hipopótamos – embora
o símile não venha dele
se arca ao peso do fruto
podre. Ainda assim
se volta ao vate e vê
o verso à flor do Verbo,
o pensamento a soar
à oitava do canto,
a voz do vernáculo
a entoar as ideias,
a vera amplitude
encarnada no arranjo
das letras. Retoma
o poema. Desfolha-o
na mesa, manchado
de manteiga. Ao lê-lo,
reúne os elos esparsos
na mente, como o vento
recolhe as folhas no desejo
de as vestir em árvores.
Tão logo cessa
o alestamento
as folhas caem
sem par. Assim revolto
ao rosto o sentido
lhe vem de encontro.
“Que praz ao poeta?”
É hora do almoço.
À mesa o poema
retarda o feijão.
“Que dom doar ao planeta?
O esforço é vão. As letras,
se muito, riscarão no ar
seus ciclos como cometas
na página infinita.
Que olhar as lerá, se definha
nossa hermenêutica
de estrelas?”. Ronca-lhe
no ventre o vácuo.
À vista tenra
destina os poemas
ao saco de recicláveis.
“Se pede atitude!
Implora o planeta”.
é lançado no lixo.
“Zumbirão as moscas!”. Mas
lembra que estavam mortas.
Rememora os versos. Há vezes
que soam leves, e outras
como hipopótamos – embora
o símile não venha dele
se arca ao peso do fruto
podre. Ainda assim
se volta ao vate e vê
o verso à flor do Verbo,
o pensamento a soar
à oitava do canto,
a voz do vernáculo
a entoar as ideias,
a vera amplitude
encarnada no arranjo
das letras. Retoma
o poema. Desfolha-o
na mesa, manchado
de manteiga. Ao lê-lo,
reúne os elos esparsos
na mente, como o vento
recolhe as folhas no desejo
de as vestir em árvores.
Tão logo cessa
o alestamento
as folhas caem
sem par. Assim revolto
ao rosto o sentido
lhe vem de encontro.
“Que praz ao poeta?”
É hora do almoço.
À mesa o poema
retarda o feijão.
“Que dom doar ao planeta?
O esforço é vão. As letras,
se muito, riscarão no ar
seus ciclos como cometas
na página infinita.
Que olhar as lerá, se definha
nossa hermenêutica
de estrelas?”. Ronca-lhe
no ventre o vácuo.
À vista tenra
destina os poemas
ao saco de recicláveis.
“Se pede atitude!
Implora o planeta”.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Questão de verossimilhança
pensei escrever no poema
Vila Madalena
como se marca no mapa
a referência
lembrar que um dia nos braços
tive Helena
não na lonjura de Osasco
nem Moema
mas logo pensei que alguém
de Alfenas
pudesse ver no confesso
um problema
como se vindo a São Paulo
pela Ayrton Senna
achasse a cidade uma cópia
de Atenas.
Vila Madalena
como se marca no mapa
a referência
lembrar que um dia nos braços
tive Helena
não na lonjura de Osasco
nem Moema
mas logo pensei que alguém
de Alfenas
pudesse ver no confesso
um problema
como se vindo a São Paulo
pela Ayrton Senna
achasse a cidade uma cópia
de Atenas.
domingo, 24 de abril de 2011
Leônidas
porque o pé abriu-se para as nuvens
como se fosse um pássaro saciado de terra
e do fruto partido ao chão tivesse lavrado
sua semente de voo flamejante
rumo ao azul sem linhas, ao campo
sem rastro, como o fio de uma espada
partindo o céu ao meio sem sangrá-lo
com a estreita lei da gravidade.
como se fosse um pássaro saciado de terra
e do fruto partido ao chão tivesse lavrado
sua semente de voo flamejante
rumo ao azul sem linhas, ao campo
sem rastro, como o fio de uma espada
partindo o céu ao meio sem sangrá-lo
com a estreita lei da gravidade.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Meu tio
meu tio é um sujeito estranho
que manca de uma perna
perdida aos 18 anos.
é calvo e magro e tanto
que quantas vezes vi o cinto
sustentando a perna mecânica.
sua esposa morreu atingida na queda de um muro.
meus primos sempre vi pouco.
meu tio gosta de pinga bem mais que cerveja.
joga sinuca, mas sofre de amor pelas cartas.
quando minha mãe o chamava
a passar uns dias em casa
jogávamos muito, sempre buraco
horas a fio na madrugada.
eu tinha 14, ele perdia.
os tragos que dava eram apenas de água.
jamais falamos de poesia.
que manca de uma perna
perdida aos 18 anos.
é calvo e magro e tanto
que quantas vezes vi o cinto
sustentando a perna mecânica.
sua esposa morreu atingida na queda de um muro.
meus primos sempre vi pouco.
meu tio gosta de pinga bem mais que cerveja.
joga sinuca, mas sofre de amor pelas cartas.
quando minha mãe o chamava
a passar uns dias em casa
jogávamos muito, sempre buraco
horas a fio na madrugada.
eu tinha 14, ele perdia.
os tragos que dava eram apenas de água.
jamais falamos de poesia.
Leitura de Helena
ele enrugava a testa
sobre o livro aberto
quando ela entrou
- dias antes, cerrara
o pensamento ao redor
dos livros empilhados –
mas ela entrou
pinçando o chão
como uma vespa
ele viu os pelos
envergarem
como campos de trigo
e um aroma
de lírios triturados
roçar-lhe a boca
e aí alçou os olhos
num gesto lento
como se as palavras
pesassem na retina;
como se vestissem
novas luzes
as pálpebras caíram
um instante;
ela sentou-se
a um palmo de sua
boca entreaberta;
ele manteve a mão
estirada na página
como se náufrago
na tábua
luziam as pupilas
como facas
e os olhos se esforçavam
em puxar o rosto;
ela ajeitou o cabelo
atrás da orelha
a voz exalava
um hálito fresco;
ele abria as narinas;
falando, ela sorria;
ele colhia as palavras
e as juntava
como feixes
sobre os livros que lia
ajeitava-as
como epígrafes;
no entanto,
ela as dera
com intenção nas entrelinhas:
verbos que no lábio
soam como a sibila.
sobre o livro aberto
quando ela entrou
- dias antes, cerrara
o pensamento ao redor
dos livros empilhados –
mas ela entrou
pinçando o chão
como uma vespa
ele viu os pelos
envergarem
como campos de trigo
e um aroma
de lírios triturados
roçar-lhe a boca
e aí alçou os olhos
num gesto lento
como se as palavras
pesassem na retina;
como se vestissem
novas luzes
as pálpebras caíram
um instante;
ela sentou-se
a um palmo de sua
boca entreaberta;
ele manteve a mão
estirada na página
como se náufrago
na tábua
luziam as pupilas
como facas
e os olhos se esforçavam
em puxar o rosto;
ela ajeitou o cabelo
atrás da orelha
a voz exalava
um hálito fresco;
ele abria as narinas;
falando, ela sorria;
ele colhia as palavras
e as juntava
como feixes
sobre os livros que lia
ajeitava-as
como epígrafes;
no entanto,
ela as dera
com intenção nas entrelinhas:
verbos que no lábio
soam como a sibila.
segunda-feira, 14 de março de 2011
A ilha
Ninfa a pedir autógrafo
"Sigamos estas deusas e vejamos
se fantásticas são, se verdadeiras."
(Lusíadas, IX)
As que vinham de ermas terras,
o olhar pendendo ao chão,
logo o nariz alteavam
ao claro azul retilíneo
estampado no horizonte;
outras de próximas praias
que a grossas mãos dardejantes
espalhavam-se como espuma,
a fronte já tinham suprida
de altiva amplidão;
todas, nas céleres naves,
em plenirruidoso coro
entoavam lépidos cânticos.
Saídas de suas naus festivas
com os sons acidulando
o ar marinho,
as vozes se acentuavam
em líquidos diminutivos.
Como reses que bovinas
ao cercado que as abriga
espremem-se na entrada,
as ninfas ombreavam-se na praia.
Reluziam nas brônzeas espáduas,
em geral, fios alongados de ouro,
embora as douradas nucas
pudessem, no cegante brilho,
espargir sombras noturnas.
Olhares fulgentes, graúdos,
de fundos tons anilados,
encimavam os tecidos
sutilmente esticados.
Assim sorriam, seriadas,
aos que na areia as tocavam.
Noutras naus, de duras linhas,
vieram os heróis velozes.
O peito inflado de glórias,
os braços férreos, o rosto
cumulado de risos,
o pensamento anotado
em lacunosos papiros,
dos barcos desciam aos dois
que o espaço da proa era parco
pro escasso ondear de ombros largos.
Assim sorriam, seriados,
aos que cortavam o caminho.
Da veste leve apartados,
a macho e fêmea resumidos,
- que demais adornos, dons, virtudes,
do humano senso presumidos
a inútil carga não carregam -
heróis e ninfas se embrenham
na fausta e venérea ilha.
"Que famintos beijos na floresta!"
Que mão honesta! Que túmida
natureza a cena oferece!
Que flor de mágoa! Que dor
abrupta remove os fios da testa!
Que fundo sopro expulsa
o ar de musgo do peito!
Que fulva fala! Que gérmen?
que fruto? que o olho colhe!
O riso de Deus tonante
(olho-que-tudo-vê)
ávido de hecatombes
ressoa na caixa argêntea.
Ninfas e heróis ululam
na noite de lua ausente.
Ao todo azul poderoso
dançam como guerreiros
atravessados de lança,
ou como animais
feridos para a matança,
ou homens mesmo
contorcionados no instante
que dão de si na cloaca.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
A Série Badaró
Do não entendimento do mundo, Cídio Martins, dez. 1997
para Eduardo Oliveira e Marcela de Souza
A juventude é um estágio curioso. Praticamos tolices que mudam o mundo (ao menos esperamos que mudem), somos iconoclastas, arrogantes, invulneráveis. Tudo isso sem saber muito para onde as coisas vão. Confiança em excesso e autocrítica deficiente. Que bom que sejamos assim! Eppur si muove! O medo de errar está bem abaixo da volúpia de criar, acontecer, movimentar. A experiência precisa ser aberta a facão.
Radares da tarde, Sidnei Xavier, 1998
Só se é poeta após os 30!? Rimbaud era traficante, não há dúvida. Antes foi só um garoto vulcânico, que cobriu de lava uma Paris burguesa. O que veio depois são conjecturas.
MCMXCVIII, Dirceu Villa, 1998
Relendo o que produzimos antes dos 30 na extinta Série Badaró, nada vejo que me traga aquele ar de nostalgia das coisas passadas. Há ingenuidade e arrogância, claro. Há falhas e iluminações, buscas e descobertas, sim. Mas há, sobretudo, uma pulsão de arte, um vigor de conquista tão latente naqueles escritos, que consigo lê-los como se mal tivessem saído do prelo. Não sei até que ponto a experiência de fazer aqueles livros da capo, de cabo a rabo, da mente de cada autor à mão de cada leitor, nos dá uma sensação de concretude, como se nos tivesse sido tatuada, e por mais que se queira, não se consegue ignorar.
O amor dos telepatas e Anjos no limbo, Rafael Vogt Maia Rosa, 1999
A Série Badaró foi curta, durou cerca de três anos e seis livros, criou fatos e factóides, amizades e desencontros, esvaziou copos e juntou, num espaço e tempo inapreensíveis, em torno da idéia utópica de publicar livros, personalidades tão díspares quanto entusiasmadas.
Almenara, Rogério de Almeida, 1999
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Encontros ao meio-dia
“di quella sozza e scapigliata fante
che lá si graffia con l’unghie merdose,
e or s’accoscia, e ora è in piedi stante.”
(Inferno, XVIII)
quando a porta ele fechava
ao burburinho arenoso
das falas nos corredores
e o casaco repousava
no espaldar da cadeira
secando o suor do rosto,
ela o mirava,
os grandes olhos luzentes,
e assim que molhava os lábios,
que grossos emolduravam
fileira espessa de dentes,
lhe dizia, os pés planando
a dois dedos do chão vermelho:
“Lindo corte essa calça tem!”
em si o contido não dava
o desvio do olhar, ou se desse,
ao menos diria um não-dito;
a voz, porém, se acumulava
em sílabas sem graça ou jaça
na mesa atulhada de livros;
tenção de sair era frustrada
pela enxurrada de acentos
que se interpunha no impulso
o mais, no entanto, que aturdia
o pensamento de evadir-se
era o afecto mover das mãos
que aos olhos e nariz aderia.
Movimento do mar
como a onda
que escava a praia
e engolindo-a
continuamente
jamais a engole
pois a retorna
umedecida
do sal sanguíneo
que o mar inquieto
retira ao fundo
de seu silêncio
azul-noturno
e revertida
ao primo leito
é ela ainda
mas água alheia
que mesmo seca
ao sol sedento
lhe salga o seio
de costa extrema
assim meu lábio
te molha a boca
que ao vento arqueja.
que escava a praia
e engolindo-a
continuamente
jamais a engole
pois a retorna
umedecida
do sal sanguíneo
que o mar inquieto
retira ao fundo
de seu silêncio
azul-noturno
e revertida
ao primo leito
é ela ainda
mas água alheia
que mesmo seca
ao sol sedento
lhe salga o seio
de costa extrema
assim meu lábio
te molha a boca
que ao vento arqueja.
Caminho
“Aí escutarás o silêncio.”
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Fecha atrás de ti a porta que confinou o beijo por anos. Vai pela rua onde os pinheiros crescem abraçados em júbilo. Não repara as casas amareladas, as paredes cruas, as crianças descalças na calçada: são felizes no tempo que as renova. Segue em direção ao lago, onde talvez pudéssemos, um dia, nadar como peixes enlanguescidos. Mas não pare aí, que há de vir a estrada longa que margeia o rio e do qual não deves beber se a sede te ressecar os lábios. Não, tua água está distante, deves caminhar ainda entre os rostos turvos da manhã de cinzas. Se te pesar o sol, suspire sob a ponte; se os pés pedirem descanso, diga-lhes do leito na primavera coberta de flores. Vem pela via dos homens exaustos da guerra, por túneis e vales em que a cidade sangra. Sobe ao morro por onde meus pés deixaram rastros: de lá procuro-te há séculos. Segue o caminho do mar, devolve teus olhos às ondas e vem até meu peito, teu lar de ventos e calor, depor teu beijo exânime de tempo.
Teoria do conhecimento
ela deixou o ventre
em silêncio
os olhos ainda contidos
na escuridão materna
nem extirpada do elo
moveu os lábios
mas a licht, como pedira Goethe,
pulsada em sol no seu rosto
lhe revolveu os ventos
premidos no peito virgem,
que as velas, se as houvesse,
apagariam nos corredores.
em silêncio
os olhos ainda contidos
na escuridão materna
nem extirpada do elo
moveu os lábios
mas a licht, como pedira Goethe,
pulsada em sol no seu rosto
lhe revolveu os ventos
premidos no peito virgem,
que as velas, se as houvesse,
apagariam nos corredores.
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O fim
se o mundo acabar antes de mim escrevo o seu epitáfio lamento o seu passamento velo sua partida choro os seus mortos retiro o meu chapéu v...
-
se o mundo acabar antes de mim escrevo o seu epitáfio lamento o seu passamento velo sua partida choro os seus mortos retiro o meu chapéu v...
-
Afoguei o verso à boca. Ela me encarava à toa. Não direi! Não farei isso! Um poema é um desperdício. Ela esperou. Não disse nad...